sábado, 13 de novembro de 2010

Inverno, Outono, Primavera e eu

Está muito gelado aqui fora e estou exausta de me procurar por ai. Rodei toda essa cidade inútil e até agora nada.  Não estou. Será que de fato existo? Será que existir faz sentido? Procuro-me em esquinas desertas, em becos escuros. É difícil prosseguir. À medida em que piso na neve fofa, descalça e nua, uma parte do meu corpo congela e quebra. Primeiro os dedos menores do pé. Onde esta aquilo que sou? Depois pedaços das pernas. Toda a dor subitamente escorre liquefeita para a cavidade dos olhos. Vou quebrando e diminuindo de tamanho até que em meu estomago se abre um buraco por onde ele chupa todo o frio e por onde tudo entra a todo o momento e não da para fechar.  Caio no chão já pedra de gelo.  Sou neve.

Morro por vários anos até acordar com a certeza de que não sou só ela, que existo antes.  Existo sem essa metade dilacerada e tomada de mim. A metade feliz de nós duas e que invejo do jeito mais sujo. Essa certeza colore a rua branca de laranja-escuro.  Continuo andando e sinto o seco da cor. Eu ando e ando, e enquanto a rua passa, vou estalando e quebrando. Está tudo bem, antes a rua que eu.  Caminho agora com certezas criadas para que tudo pulse aqui dentro. No caminho encontro alguém. Não sei seu nome, mas reconheço todo o resto que o compõe. E então, descarrego tudo aqui dentro de mim dentro dele. Deles. Até ficar oca.  E de novo, e de novo. Mesma de sempre me explico com aqueles diálogos exaustivamente ensaiados. E nos vamos.

Ela, entretanto, não está lá. Nem neles, nem por ai, na cidade. Nova certeza. E as ruas laranjas-escuro tornam-se coloridas. Multi-coloridas. Há perfume no ar e novas cores começam a nascer ao meu redor. Ainda procuro por ela mas agora já não é mais uma metade, diminuiu de tamanho. Não sei. É tanta cor que confunde.  De súbito, pergunto as horas e olho para alguém que me responde. Observo cada detalhe desse rosto e me lembro do tempo. Não do tempo que se esvaia enquanto meus olhos em preto e branco se perdiam do lado de dentro.  Mas do tempo que transforma o mundo. E então, a cidade-mundo começa a girar ao meu redor e escoar como água num eu ralo-de-pia. Onde andaria ela?

Ela é ainda ela? Abraçada em mim quente e real ela e eu, eu mesma. As ruas não existem mais, agora é só o mundo todo. Inicio nova caminhada, era uma vez o verde em mim. Era uma vez minha vida. Agora.


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